Projeto Piloto de Educação Integral em Tempo Integral no DF

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


ESCOLA INTEGRAL

Por definição, a palavra integral significa inteiro, completo, total, o que é identificado nas diversas definições de escola e de educação propostas por Anísio Teixeira e retomadas mais recentemente nas discussões acerca da necessidade de ampliação do tempo de permanência do estudante na escola.
O Distrito Federal visando materializar a almejada Educação Integral, como produto de estudos pedagógicos, sociológicos e filosóficos, propõe um novo formato educacional que provoque mudanças na sociedade e na escola enquanto produto desta.
Não esquecendo que vista como processo pedagógico, a educação integral prevê práticas não dicotomizadas que reconhecem a importância dos saberes formais e não formais, a construção de relações democráticas entre pessoas e grupos, imprescindíveis à formação humana, valorizam os saberes prévios, as múltiplas diferenças e semelhanças e fazem de todos nós sujeitos históricos e sociais.
Nesta perspectiva de trabalho, surge a necessidade de que haja a ampliação do tempo de permanência do estudante na escola, sendo este tempo maior destinado a ampliação das oportunidades educacionais e concomitantemente devendo isto acontecer mediante ampliação dos espaços educativos.
Frente a essa perspectiva, tomamos aqui o direito de lançar mão de uma expressão que vem sendo usada para referir-se a instituição educacional que associe a oferta de Educação integral ao tempo integral de permanência do estudante na escola. Chamaremos esta de “Escola Integral”.
Esta Escola Integral pressupõe uma escola viva, que esteja concatenada a realidade em que está inserida, objetivando que esta escola não atue apenas intramuros, mas que viva em completa simbiose com a comunidade que a permeia, ampliando a função da escola para além das questões pedagógicas, mas imprimindo-lhe uma dimensão biopsicossocial balizada na ampliação do tempo de permanência do estudante neste espaço.
O Projeto Piloto de Educação Integral em Tempo Integral – PROEITI - que hora apresentamos pretende oferecer uma educação por inteiro em um turno integral rimando quantidade e qualidade educacionais para que nossos estudantes tenham oportunidades de desenvolvimento dos requisitos necessários para uma vida plena com participação ativa e saudável na sociedade. O atendimento será realizado todos os dias da semana, num turno único com duração de 10h diárias.
Esta proposta vale como referência para as escolas se inspirarem na elaboração de suas próprias ações, em conformidade com o Projeto Político Pedagógico Professor Carlos Motta e de acordo com seu Projeto Político Pedagógico que deve ser construído com a comunidade escolar e local.

OS ATORES

Ao delinearmos as responsabilidades específicas de cada ator do processo educacional em uma Escola Integral, vemos que elas se complementam e por isso devem estar em total sintonia como partes de uma engrenagem onde cada um assuma sua função ciente de que assim como sua atuação depende das ações dos demais, é a atuação dos demais que permite que se possa atuar.
·         Estudante - A definição do estudante identificado e pensado como demandante de uma Escola Integral, é um sujeito plural, único e coletivo, individualizado e multiplicado pelas redes sociais. Portanto, um sujeito pleno de seus direitos, um estudante cidadão que tem condições de ditar seu destino de modo horizontal em todas as suas dimensões.
·         Equipe Gestora - É a responsável pelo gerenciamento dos recursos financeiros, pela articulação das ações administrativas, pela manutenção de um ambiente escolar harmônico e pela articulação do trabalho pedagógico a ser desenvolvido pela equipe que atua, nos diversos momentos pedagógicos da escola.
·         Professores - Tem a responsabilidade de capitanear os trabalhos referentes não somente a Base Nacional do Currículo, como também as atividades complementares Este trabalho passa a acontecer sob a supervisão e execução deste profissional, sendo que estas atividades devem existir em absoluta sintonia.
·         Coordenador Pedagógico - Cabe a este profissional garantir a articulação entre professores, equipe gestora e comunidade escolar.  Responsável pela articulação do espaço/tempo de coordenação pedagógica. Para que a coordenação seja um espaço vivo, o coordenador pedagógico escolhido deve articular a reflexão do pensar e do fazer pedagógico. Para tanto, precisa assumir o protagonismo no apoio ao trabalho pedagógico, à formação continuada, ao planejamento e ao desenvolvimento do PPP, sempre visando a aprendizagem de todos os estudantes.
·         Coordenador de Educação integral -  Responsabiliza-se pela articulação do trabalho entre professores de turnos diferentes de modo que seus trabalhos complementem-se. É o profissional que operacionaliza a integração entre os diversos saberes nos diversos espaços.
·         Comunidade Escolar - A relação entre escola e comunidade pode ser marcada pelo diálogo, a troca de experiências, a construção de saberes e também pela possibilidade de juntas, constituírem-se em uma comunidade de aprendizagem, de modo que a interação entre escola e comunidade auxilie na superação de desafios que se apresentarão.
·         Outros profissionais de apoio - Nesta proposta, os Monitores[1] Voluntários assumem o papel de auxiliar no trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, assim como o Bolsista[2] Universitário que surge como auxiliar ao trabalho do professor.

  ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A participação articulada, reflexiva, criativa e comprometida entre os atores escolares e a mobilização dos potenciais educativos da comunidade local são fatores de extrema importância para o sucesso da Escola Integral. Esta participação deve estar presente nos diversos níveis de planejamento.
Para que as escolas possam propiciar o atendimento em tempo integral, é necessário que haja uma estrutura física e pedagógica mínima a fim de imprimir qualidade ao atendimento, sendo importante lembrar que as instituições necessitam organizar espaços para repouso, para livre expressão e para lazer.
Importante frisar que o atendimento dar-se-á em tempo contínuo, sem que haja fragmentação dos turnos letivos, incluindo-se neste período o tempo destinado a alimentação, higienização, passeios e demais atividades pedagógicas, sendo sugerido às escolas atenderem ao período de 07h30 às 17h30, perfazendo um total de 10h. Em verdade, a jornada de tempo integral pressupõe um turno único, mesmo que haja um momento focado nas atividades da Base Nacional Comum ou nas atividades complementares, assim como se tiver mais de um professor conduzindo as atividades durante a manhã e/ou tarde. Esta indissociabilidade entre os tempos educativos deve materializar-se no planejamento e na execução do processo pedagógico.
Durante o dia letivo o estudante receberá 04 à 05 refeições diárias[3] (de acordo com parecer da Coordenação de Alimentação Escolar CORAE/SIAE), sendo o cardápio apropriado para as especificidades próprias da faixa etária. O período destinado às refeições na Escola de Educação Integral em Tempo Integral precisa ser planejado e significado pedagogicamente, devendo ser pensado como um momento para a formação de hábitos alimentares saudáveis, de higiene, boas maneiras, valores e, acima de tudo, socialização e interação dos estudantes com todos os envolvidos na unidade escolar.
Os períodos destinados às atividades diárias realizadas sob responsabilidade do professor podem e devem ocorrer dentro de sala de aula e/ou em outros espaços: brinquedoteca, biblioteca, pátio, parque, laboratório de informática, ambientes externos, etc. 
Serão disponibilizados transportes para locomoção dos estudantes para realização de atividades externas. Tais saídas deverão ser sistematizadas para melhor organização, mediante articulação junto aos parceiros, devendo nestas saídas, o estudante estar acompanhado por seu professor, que é o responsável pelo aluno neste período.
A fim de garantir a legitimidade destas saídas sistemáticas, é necessário que durante as primeiras semanas letivas, todos os pais assinem termo de autorização para as atividades externas, a fim de cientificar e documentar esta prática pedagógica.
Para composição das turmas de tempo integral, visando viabilizar a execução das atividades diversificadas, estas poderão ser grupados de acordo com seu nível de aproveitamento para a atividade proposta e/ou por faixa etária, devendo, no entanto obedecer a capacidade e as especificidades da escola, da atividades e principalmente do grupo de alunos.
Para melhor atendimento de cada estudante e de cada turma, há a necessidade da ressignificação dos Coordenadores de Educação Integral, especialmente necessários também nos momentos de entrada e saída, refeições e repouso e principalmente, visando garantir que haja diálogo entre as ações curriculares e complementares. Para tanto haverá nas escolas com mais de 06 turmas, a presença do segundo coordenador de educação integral, sendo que estes profissionais atuarão como articuladores das diversas atividades que acontecerão ao longo do dia letivo, dando suporte ao trabalho desenvolvido pelo coordenador pedagógico.
Um profissional que surge para colaborar com o trabalho desenvolvido na Educação Infantil e nos Anos Finais do Ensino Fundamental nas Escolas Integrais, é o professor de Artes. Para cada conjunto de 10 turmas, deverá ser disponibilizado um professor de Artes que atenderá em 3 horas aula cada turma totalizando 150min (duas horas e meia), sendo a organização deste período definida pela escola. O atendimento será voltado às expressões corporais, a música e a prática lúdico-artística, sendo estas dimensões indispensáveis à formação integral do estudante.
No período em que o estudante estiver sob a responsabilidade do profissional de Artes, o professor regente deverá realizar coordenação com o seu par de regência de classe (responsável pelo outro turno).  Este período de encontro semanal pode constituir-se como espaço de troca de informações e experiências pedagógicas vivenciadas, a fim de evitar as rupturas cronológicas, didáticas ou outras de qualquer ordem no trabalho.
Todos os sujeitos envolvidos no processo são responsáveis pelos estudantes em todos os momentos do dia. Entretanto, em horários de refeição, por exemplo, é preciso o envolvimento de outros profissionais. Nesse momento, o acompanhamento dos estudantes torna-se responsabilidade de todos (cada um com sua responsabilidade), sejam estes professores, funcionários da cozinha, auxiliares de educação, coordenadores pedagógicos, gestores. Cada escola deverá fazer sua escala de atendimento em cada um dos espaços apontados, de forma que todos tenham, diariamente, acesso a maior quantidade possível de oportunidades educacionais em diversos espaços/ambientes.
            Vale salientar que a rotina escolar será definida pela comunidade escolar e deverá constar no Projeto Político Pedagógico observando que as atividades complementares deverão ser planejadas de acordo com as peculiaridades locais e/ou regionais. Que não seja uma camisa de força e que seja adequada às necessidades do estudante e não o inverso. A estabilidade que a rotina oferece não pode significar a repetição, o automatismo, o fazer sempre igual. Neste sentido, a rotina escolar não pode conter rupturas em seu processo de desenvolvimento.
              O ano letivo, independente do ano civil, tem duração de no mínimo 200 (duzentos) dias letivos de efetivo trabalho escolar oferecido a todos os estudantes, em conformidade às orientações que são emanadas pelo Conselho de Educação do Distrito Federal, não devendo a escola deixar de oferecer atendimento em tempo integral durante este período.
            Sabedores de que o dia letivo é aquele caracterizado pelo controle de frequência discente em instrumento próprio, presença de profissionais habilitados e intencionalidade pedagógica de planejamento e práticas, é necessário atentar-se a este trio de características que devem coexistir em todos os dias para que não haja déficit de dias no ano letivo. Para fins de frequência, são consideradas atividades escolares realizadas na sala de aula, bem como as que ocorrem em outros locais adequados a trabalhos teóricos e práticos, e que tem como objeto à plenitude na formação de cada estudante.
O registro do trabalho pedagógico que é desenvolvido é obrigatório, seja das atividades previstas na Base Nacional do Comum do currículo ou naquelas desenvolvidas nos diversos projetos interdisciplinares da parte diversificada do currículo, devendo este registro ser feito em diário de classe específico.
Outrossim, lembramos que de acordo com a Portaria 134 de 14/09/2012   do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira – PDAFàs escolas que atendem todos os seus alunos em jornada de tempo integral (Escolas Inseridas no Projeto Piloto de Educação Integral) foi acrescido ao recurso percebido  o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) para adaptações, aquisições de materiais, manutenções etc.
            No sentido de garantir a melhor adaptação da unidade escolar, dos profissionais envolvidos no processo, da comunidade escolar (responsáveis pelos estudantes) e principalmente do estudante que será atendido nestas escolas, sugerimos um período de adequação, onde possamos gradativamente ampliar o tempo de permanência do estudante na escola. A saber:
·         De 14 e 15 de fevereiro, o estudante permanecerá 05 horas na escola (1ª semana);
·         De 18 à 22 de fevereiro, o estudante permanecerá 06 horas na escola (2ª semana);
·         De 25/02 à 01 de março, o estudante permanece 08 horas na escola (3ª semana);
·         A partir do dia 04 de março, o estudante permanece o período de 10 horas diárias na escola.
Na primeira semana (primeiros dois dias letivos) o estudante será informado da nova rotina da escola, devendo familiarizar-se com os novos professores, que por sua vez, deverão se revesar no atendimento do estudante, deverão planejar suas atividades pedagógicas.
Na segunda semana, o estudante deve permanecer na escola até o período do almoço, para familiarizar-se com este período, que se trata de uma experiência que passa a possuir caráter pedagógico além de fisiológico. Ao corpo docente, caberá traçar as linhas de articulação entre as atividades referentes a Base Nacional Comum e a Parte Diversificada do Currículo. A coordenação adquire caráter formativo.
Na terceira semana, teremos o momento de maior importância no processo de adaptação, pois o período de oito horas configura o maior tempo de permanência do aluno vivenciado na escola, portanto, neste período ele já deve ter acesso a maior parte de experiências possíveis, pois além da adaptação física e fisiológica, é o período mais intenso de preparação emocional, proposto pela nova proposta.
Enfim, na quarta semana, após 12 dias letivos de adaptação, daremos início as atividades planejadas para o tempo contínuo de 10 horas diárias.

OPERACIONALIZAÇÃO DO PERÍODO DE TEMPO INTEGRAL

Na Educação Infantil

De acordo com a estratégia de Matrícula da SEEDF para 2013, as turmas de jornada de tempo integral para as turmas de Educação infantil serão compostas da seguinte forma:
·         1º período – crianças de 04 anos completos ou a completar até 31/03/2013 terão de 16 a 24 crianças;
·         2º período – crianças de 05 anos completos ou a completar até 31/03/2013 terão de 16 a 24 crianças;
             Alguns aspectos de infraestrutura mínima para estas instituições estão explicitados nos Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil do MEC (2008). “Assim, cada escola deverá dispor de vasos sanitários, lavatórios e chuveiros, lavanderia, sendo necessário ainda amplo espaço interno, salas com ventilação e iluminação adequadas, espaços outros que não sejam apenas àqueles das chamadas ‘salas de aula’”.
É importante lembrar que as instituições necessitam disponibilizar também espaço para sono e repouso, refeições, movimento e circulação, brincadeiras livres e dirigidas, lazer, contato com o meio natural.


Rotina

            A organização do trabalho pedagógico deve considerar as relações e os vínculos que a criança precisa estabelecer tanto com seus pares quanto com os adultos que a estão acompanhando. Para construção e o fortalecimento de interações e do vínculo, é imprescindível a convivência diária contínua e esta depende de uma rotina dinâmica, motivadora e inovadora.
A organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil precisa ter como núcleo a organização do tempo, dos ambientes e dos materiais, sendo que estes, integrados, possibilitam uma rotina condizente com os interesses e as necessidades infantis. A rotina deve ter como meta as aprendizagens e, por consequência, o desenvolvimento integral das crianças.
            A seguir, propomos um exemplo de como as atividades diárias podem ser distribuídas em uma rotina, sendo:
·         De 07h30 às 08h: acolhida as crianças e servimento da 1ª refeição;
·         De 08h às 09h45: atividades pedagógicas planejadas, tendo como núcleo a sala de aula e/ou outros espaços como a brinquedoteca, biblioteca, pátio, parque, etc;
·         De 09h45 às 10h15: servimento da 2ª refeição;
·         De 10h15 às 12h: continuidade das atividades pedagógicas;
·         De 12h às 14h30: período destinado à 3ª refeição, higienização bucal, descanso/sono.
·         De 14h30 às 15h: servimento da 4ª refeição;
·         De 15h30 às 16h45: atividades pedagógicas planejadas, tendo como núcleo a sala de aula e/ou outros espaços como brinquedoteca, biblioteca, pátio, parque, etc;
·         De 16h45 às 17h30: servimento da 5ª refeição e higiene bucal.
Esse exemplo de rotina é um dos muitos possíveis, observadas as condições de cada escola.
Nota-se que o período destinado ao banho[4] não aparece porque depende das condições e localização dos banheiros, quantidade de chuveiros etc. Por isto, cada escola precisa pensar sobre esta prática.
É importante que, na perspectiva da educação integral e do respeito à infância, as crianças não fiquem durante todo o dia nas salas de aula, sentadas e realizando atividades  repetitivas e sustentadas apenas em impressos.
Para que cada escola possa organizar-se nessa nova perspectiva, lembramos que cada turma será regida por 02 professores com 40h semanais de atividades. Nesse sentido, trabalharão com a mesma turma (05 horas de responsabilidade para cada um), sendo responsáveis pelo planejamento, registro diário, condução das atividades, avaliação das aprendizagens e desenvolvimento das crianças.
Para melhor atendimento de cada criança e de cada turma, há a necessidade do profissional de apoio, especialmente necessário nos momentos de entrada e saída, refeições, sono e repouso, banho e higiene bucal.
A cada conjunto de 03 turmas, haverá um profissional de apoio, que acompanhara as turmas durante todo o período em função do princípio da indissociabilidade do educar e cuidar, por exemplo: despir, dar banho, vestir, pentear as crianças exige planejamento, tempo, paciência e organização para que ninguém fique esperando por muito tempo e para que o banho seja um momento de prazer e de respeito ao corpo.
Assim como o horário do sono é outro momento a ser pensado. Isto porque nem todas as crianças têm o hábito de dormir durante o dia. É preciso, então, conjugar a supervisão do sono de algumas com o repouso de outras. Além destas situações, ainda é possível que algumas não consigam nem dormir nem repousar, pois isto depende de hábitos que vêm de casa. Aos profissionais, caberá providenciar atividades adequadas às experiências individuais.
Sendo professor, este profissional de apoio participaria das atividades desde o planejamento, aplicação e avaliação do processo de ensino aprendizagem. Sendo da carreira assistência, centraria suas ações nos momentos de entrada e saída, refeições, sono e repouso, banho e higiene bucal. Estamos cientes de que a segunda opção – profissional da carreira assistência – não é o ideal porque acaba separando o educar e o cuidar. Também a opção pelo professor precisa ser muito bem avaliada porque cria uma situação nova: a bidocência em turmas de crianças pequenas.
A jornada de tempo integral de 10 horas nos obriga a pensar na viabilidade e qualidade do atendimento às crianças em uma nova perspectiva. Jornadas de tempo menores permitem que a participação da família nas práticas sociais seja diferente. Na jornada de dez horas, essas práticas sociais (banho, refeições, higiene bucal, sono/repouso, uso de sanitários) ficam centradas na escola.

No Ensino Fundamental

Remetendo-nos à LDB 9394/96, em seu artigo 26, constatamos que os currículos do ensino fundamental devem ter uma base nacional comum, a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da comunidade.
A fim de viabilizar as aprendizagens, garantindo sucesso ao processo pedagógico, em conformidade com a LDB, faz-se necessário assegurar um tempo/espaço de convivência escolar com a comunidade local, desenrolando-se nas relações sociais e com as dimensões do território[5] onde se localiza de forma a propiciar oportunidades de aprendizagens que envolvam os saberes produzidos pelos educandos e pelas comunidades a que pertencem.
Podemos ainda observar na base nacional comum, uma preocupação com o ensino da arte, da educação física, da música e das línguas estrangeiras modernas, mostrando uma visão de educação mais generalista e com a intencionalidade de propiciar o desenvolvimento pleno do educando.
Conforme Projeto Político Pedagógico da escola, as Instituições Educacionais devem compor o seu currículo, buscando integrar as ações educativas da base nacional comum, com as atividades diversificadas[6] do currículo, ofertando um currículo com organização do trabalho pedagógico diversificado, de fomento à cultura, às artes e ao desporto.
As atividades e estratégias propostas para o período de tempo ampliado visam o alcance de uma educação verdadeiramente integral, sendo estas classificadas como parte diversificada do currículo, sem esquecermos que a base nacional comum e a parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental constituem um todo integrado e não podem ser consideradas como dois blocos distintos.
Neste caso, abrem-se uma variedade de opções a serem escolhidas junto com a comunidade e em consonância com a realidade local. Podemos citar, como exemplo, a necessidade de ampliar os tempos de discussão de educação ambiental, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, promoção da saúde, música, comunicação e uso de mídias, investigação no campo das ciências da natureza, educação econômica e tecnologia da alfabetização.
Existe, entretanto, um campo do conhecimento considerado de caráter obrigatório pela SEDF, ou seja, que não pode faltar em nenhuma instituição de ensino no que tange a perspectiva de implantar uma educação integral no DF - o acompanhamento pedagógico. Com pelo menos duas atividades: Matemática e Língua Portuguesa, sendo este campo destacado como um saber integrado à vida cotidiana e a parte diversificada do currículo.
Há uma preocupação muito grande no aspecto concernente a oferta deste acompanhamento pedagógico, pois existe a possibilidade deste ser confundido com reforço escolar.
O acompanhamento pedagógico refere-se à oportunidade de trabalhar as múltiplas oportunidades de aprendizado em matemática, português ou nos diversos letramentos, propiciando ao professor a oportunidade de utilizar novas estratégias de atendimento, e aos alunos mais oportunidades de aprendizagem, ressignificando a prática pedagógica.
            As atividades complementares previstas para o período suplementar ou entremeando o período destinado a base nacional comum do currículo, devem constituir-se de atividades que ocorrerão em simbiose as atividades propostas pelo professor responsável pela base comum do currículo, sem jamais mostrar-se independente desta.
            Esta proposta visa oferecer ao aluno uma amplitude maior de oportunidades educacionais, seja nas artes, cultura, esportes ou na vivência de experiências científicas ou não.

Nos Anos Iniciais

De acordo com a estratégia de Matrícula da SEEDF para 2013, as turmas serão compostas da seguinte forma:
·         1º Ano – terão 25 alunos;
·         2º Ano – terão 25 alunos;
·         3º Ano – terão 29 alunos;
·         4º Ano – terão 32 alunos;
·         5º Ano – terão 32 alunos;
Conforme preconiza as diretrizes para os Anos Iniciais do Ensino fundamental, que nos afirma que: “Os diversos letramentos devem ser apresentados de maneira dialógica entre os mesmos, evitando ações rígidas e compartimentadas como se encontram os atuais ensinos dos componentes curriculares. Nesse sentido, as práticas pedagógicas e avaliativas devem ser elaboradas com o olhar nas especificidades de cada área de conhecimento, mas com objetivo de possibilitar conhecimentos em sua totalidade de forma interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar.” (DIRETRIZES PEDAGÓGICAS PARA OS ANOS INICIAIS, 2009, p. 35.)

Para que cada escola possa organizar-se nessa nova perspectiva, lembramos que cada turma, terá dois professores de atividades generalistas com 40h semanais de dedicação, responsável por ministrar a base nacional comum e a parte complementar do currículo de modo articulado a partir de um planejamento contínuo e sistemático.

A Rotina
             
            Incentivando a dinamicidade desta rotina, propomos uma sequência diária de ações que incluam:
·         De 07h30 às 12h30 – período destinado às atividades diárias realizadas sob responsabilidade do 1º docente, tendo como núcleo a sala de aula e/ou espaços complementares como bibliotecas, laboratórios de informática, etc.
o   Neste período, o aluno deverá ter acesso a 1ª refeição no início das atividades, a 2ª refeição no período mediano do turno.
o   Neste primeiro bloco, será disponibilizado um período de 15 minutos de intervalo conforme preconiza as Diretrizes Pedagógicas da SEEDF 2009/2013 pp.47.
·         De 12h30 as 13h30 - período destinado ao almoço e higienização do estudante. Sendo este o período de troca de professores, de modo que faz-se necessário o envolvimento dos coordenadores pedagógicos, coordenadores de educação integral e demais servidores da escola neste período a fim de evitar problemas de descontinuidade no processo.
·         De 13h30 as 17h30 - período destinado às atividades diárias realizadas sob responsabilidade do 2º docente, tendo como núcleo a sala de aula e/ou espaços complementares como bibliotecas, laboratórios de informática, etc.
o    No final deste período, o aluno terá acesso a 4ª refeição.
o   Neste bloco, também será disponibilizado um período de 15 minutos de intervalo, conforme preconiza as Diretrizes Pedagógicas da SEEDF 2009/2013 pp.47.
Quando houverem atividades externas, seja no turno matutino ou vespertino, o professor responsável pela turma no horário, deverá acompanha-la, a fim de garantir que haja integração curricular entre as atividades propostas pelos profissionais destes espaços e as atividades planejadas pelos professores regentes da turma.

Nos Anos Finais

Um desafio que se apresenta como grande obstáculo a ser ultrapassado nesta etapa de ensino refere-se a superar a fragmentação curricular, estabelecendo a continuidade das ações educativas, a partir de estratégias de integração entre o currículo formal e o informal.
Outro espaço onde verificamos a fragmentação curricular é observado no trato de algumas disciplinas com os conhecimentos informais, pois apesar de observarmos na composição da Matriz curricular para os anos finais do ensino fundamental, uma preocupação com o ensino das artes, esporte e cultura, estas se mostram ainda de forma isolada e consequentemente fragmentada.
De acordo com a estratégia de Matrícula da SEEDF para 2013, as turmas de Anos Finais do Ensino Fundamental/ 9 anos serão compostas da seguinte forma:
·         6º ano –  terão entre 26 e 31 estudantes se for urbana e entre 21 e 30 se for rural ;
·         7º ano –  terão entre 28 e 34 estudantes se for urbana e entre 26 e 34 se for rural ;
·         8º ano –  terão entre 28 e 35 estudantes se for urbana e entre 26 e 35 se for rural ;
·         9º ano –  terão entre 30 e 35 estudantes se for urbana e entre 26 e 35 se for rural ;
A garantia de construção de um currículo integral, não se constitui apenas da possibilidade de entremear atividades do núcleo comum com as atividades complementares, mas materializa-se principalmente no diálogo que estes momentos devem construir, independente do tempo em que ocorram.
            Dependendo da estrutura física da escola, é possível pensarmos em algumas propostas de rotina diária de funcionamento; a ideia é propiciar um melhor aproveitamento das potencialidades físicas e pedagógicas da escola, de seus docentes e discentes.

Rotina

Ao lembrarmos que há um aumento substancial no tempo de permanência do aluno na escola, é possível organizarmos a rotina diária propondo que o dia letivo seja composto por 10 aulas diárias, com a duração de 50 minutos, incluindo neste período as aulas da Base nacional Comum e as aulas de disciplinas da Parte Diversificada do currículo e o período destinado ao almoço, e descanso. Neste caso, é recomendável que seja privilegiado o momento de aulas duplas, aumentando o tempo de contato entre aluno e professor, estreitando os laços entre estes.
Vale lembrar que os momentos das refeições, integram o período das aulas. Nesta perspectiva, teremos a rotina sendo assim distribuída:
o   De 07h30 às 08h20: Primeira aula.
o   De 08h20 às 09h10: Segunda aula.
o   De 09h10 às 10h00: Terceira aula – reservar um período para a 1ª refeição.
o   De 10h00 às 10h15: Intervalo.
o   De 10h15 às 11h05: Quarta aula.
o   De 11h05 às 11h55: Quinta aula.
o   De 11h55 às 13h05: reservado para almoço higienização bucal e descanso do aluno.
o   De 13h05 às 13h55:.Sexta aula.
o   De 13h55 às 14h45: Sétima aula.
o   De 14h45 às 15h35: Oitava aula – reservar um período para a 3ª refeição.
o   De 15h35 às 15h50: Intervalo.
o   De 15h50 às 16h40: Nona aula.
o   De 16h40 às 17h30: Décima aula – reservar um período para a 4ª refeição.
  
A parte diversificada de línguas estrangeiras, lazer, biblioteca, música, cultura, rádio escolar, etc pode ser entremeada no tempo, durante o dia, independentemente de sua natureza mais ou menos sistemática.
Um horário de aula de matemática (ou de qualquer outro componente da base nacional comum) pode ser seguido de uma atividade diversificada de teatro, que, por sua vez, pode seguir num horário de biblioteca ou numa aula de língua portuguesa. Essas atividades podem, em função de um projeto elaborado, estar integradas, rompendo a rigidez da própria grade horária curricular.
Pretende-se, com essa nova lógica organizacional, favorecer o encontro interdisciplinar, bem como evitar a valoração prévia entre componentes curriculares. Tal sistema exige uma reorganização do trabalho pedagógico, do planejamento docente, bem como das dinâmicas de deslocamentos e uso dos espaços.
Esta Parte Diversificada do Currículo prevê que podem ser incluídas disciplinas de livre escolha das escolas e dos sistemas de ensino, conforme os interesses e as possibilidades de execução.
A fim de que haja maior integração entre as disciplinas, bem como distribuição da modulação sugere-se que as atividades complementares estejam concatenadas às disciplinas da Base Nacional Comum. Exemplificando:
·         O professor de Português (5h/a) atuará ministrando atividades de acompanhamento pedagógico em língua portuguesa, poesia, jornal ou produção literária, entre outras atividades afins.
·         O professor de Matemática (5h/a) atuará ministrando atividades de acompanhamento pedagógico em matemática, geometria, lógica, etnomatemática, entre outras atividades afins.
·         O professor de Educação Física (3h/a) ministrará atividades de desporto escolar, xadrez,  saúde, entre outras atividades afins.
·         O professor de Artes (2h/a) atuará nas atividades de teatro, artesanato, música, dança entre outras atividades afins.
·         O professor de Ciências (4h/a) poderá ministrar atividades de saúde escolar, acompanhamento pedagógico de ciências, meio ambiente ou saúde escolar entre outras atividades afins.
·         O professor de história ou o professor de geografia (3h/a) pode atuar nas atividades de implantação do artigo 26ª da LDB, sustentabilidade humana, entre outras atividades afins.
·         O professor de inglês (integrante da parte diversificada do currículo, porém de oferta obrigatória) por sua vez terá sua carga ampliada de 2 h/a para 3 h/a, para que este possa trabalhar um currículo ampliado visando proporcionar a este uma maior oportunidade de trabalhos pedagógicos.

Uma escola verdadeiramente integral é constituída por elementos como o currículo integrado, a gestão democrática, plenas condições de trabalho pedagógico que articulados ao projeto político-pedagógico da escola, garantem a vivência escolar de estudantes, professores, família e comunidade em um exercício cotidiano, coletivo e democrático de cidadania. Construir uma educação que emancipe e forme em uma perspectiva humana considerando as múltiplas dimensões e necessidades educativas é uma importante estratégia de melhoria da qualidade de ensino e promoção do sucesso escolar.

Enfim....

A implantação de escolas de tempo integral só faz sentido quando concebida uma Educação Integral em que o horário expandido venha a representar uma ampliação de oportunidades e situações especialmente planejadas com a finalidade de promover aprendizagens significativas e emancipadoras. Nossa proposta não é apenas ampliar o tempo do estudante na escola. Não é reproduzir o que já existe e sim propor algo novo. Algo inovador. É aumentar quantitativamente, mas, sobretudo qualitativamente as novas aprendizagens.

ESTE É O NOSSO DESAFIO!!!

Coordenação de Educação Integral



[1] As atividades desempenhadas pelos monitores são consideradas de natureza voluntária, sendo ressarcidas as despesas de alimentação e transporte dos monitores definida na forma da Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. O trabalho de monitoria será desempenhado, preferencialmente, por estudantes universitários de formação específica nas áreas de desenvolvimento das atividades, podendo ser desenvolvidas por pessoas da comunidade com habilidades apropriadas, competências, saberes e habilidades ou estudantes da EJA e estudantes do ensino médio.
[2] O Bolsista Universitário é um estudante universitário encaminhado pela FAP/SECTI DF, de acordo com a Portaria Conjunta N° 03 de 14 de maio de 2009, tendo sua atuação definida no artigo 14 da referida lei.
[3] Para efeitos organizacionais, a Resolução CD/FNDE n° 38, de 16 de julho de 2009, em seu artigo 15, inciso IV, estabelece que quando o estudante for matriculado em jornada de tempo integral, a alimentação escolar deve fornecer 70% (setenta por cento) das necessidades nutricionais dos estudantes. A quantidade de refeições operacionalizadas para garantir este percentual fica a cargo da SEEDF

[4] Algumas famílias preferem dar banho em casa e esse desejo deve ser acolhido, desde que respeitado o direito das crianças ao conforto, à saúde e ao bem-estar durante o período em que estão na instituição. No momento em que é incluído na rotina, o banho precisa ser planejado, preparado e realizado como um procedimento que tanto promove o bem-estar quanto um momento no qual a criança experimenta sensações, entra em contato com a água e com objetos, interage com o adulto e com as outras crianças. É necessário organizar o tempo de espera para o banho, oferecendo materiais, jogos e brincadeiras em um espaço planejado para isso. (Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil - 1998)

[5] Atualmente, a escola tende a limitar sua atuação ao espaço escolar, porém de acordo com o Decreto Presidencial nº 7.083/2010 temos que as atividades poderão ser desenvolvidas dentro do espaço escolar, de acordo com a disponibilidade da escola, ou fora dele sob orientação pedagógica da escola, mediante o uso dos equipamentos públicos e do estabelecimento de parcerias com órgãos ou instituições locais, e ainda o princípio que a constituição de territórios educativos para o desenvolvimento de atividades de educação integral, por meio da integração dos espaços escolares com equipamentos públicos como centros comunitários, bibliotecas públicas, praças, parques, museus e cinemas;
[6] De acordo com a Lei 9.394/96 , estabelece em seu Título V dos Níveis e das Modalidades de Educação de Ensino, Capítulo II da Educação Básica, Seção I, Artigo 26, a saber diz que os  currículos  do  ensino  fundamental  e  médio  devem  ter  uma  base nacional  comum,  a  ser  complementada,  em  cada  sistema  de  ensino  e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Esta Parte Diversificada do Currículo prevê que podem ser incluídas disciplinas de livre escolha das escolas e dos sistemas de ensino, conforme os interesses e as possibilidades de execução. Não há delimitações temáticas para essa última parte: é possível optar por ministrar Geografia local, Educação Ambiental, Dança, Informática, Língua estrangeira ou outra questão que atenda a necessidade daquela comunidade.

3 comentários:

  1. mary disse...:

    precisamos que realmente os apoios es formaçoes por parte das cres e dos orgaos interseoriais estejam preparados paraa poiar este novo modelo de educação para que nao se torne um caos dentro da escola.

  1. Anônimo disse...:

    Olá, tudo que está escrito aqui são dados oficiais? se sim voce os retirou de onde? estou fazendo meu tcc sobre o PROEITI e preciso de dados oficiais e gostaria de saber se puder me ajudar agradeço

  1. Jeovany Machado disse...:

    Eu estive à frente da Coordenação de Educação Integral- CEINT - durante 4 anos e nesse período implementamos o PROEITI no DF. Esse blog, era ferramenta da CEINT para divulgação dos nossos trabalhados e também para socialização de informações com a comunidade escolar.
    Desde que saí da CEINT, visando dar continuidade as discussões acerca da Educação Integral no DF e para divulgação de informações relevantes, afinal, a Educação Integral é uma área que gosto muito, resolvi dar continuidade ao blog.
    Esses dados apesar de serem oficiais, não estão atualizados, uma vez que essa postagem é de 2013, porém, são um recorte histórico da criação (início) do programa. Fico extremamente feliz em verificar que estão pesquisando sobre as possibilidade se desafios do PROEITI.
    Quanto aos dados atualizados, acredito que Gerẽncia de Educação Integral na pessoa da professora Sônia, terão muito prazer em lhe fornecer informações atuais para seu TCC.

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